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Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência: avanços históricos, desafios de presença e permanência 

11 de fevereiro de 2022

Reportagem da Semana 

Imprensa ADUR-RJ

Por Larissa Guedes

 

Segundo a ONU, para alcançar a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável proposta pela entidade, é preciso alinhar e equilibrar ciência e igualdade de gênero. Imagem: reprodução ONU Mulheres.

 

Desde 2015, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas institucionalizou o 11 de fevereiro como “Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência”. A iniciativa veio acompanhada de uma série de eventos ao redor do mundo organizados pela ONU Mulheres e pela Unesco para estimular a equidade de gênero no meio científico, dar mais reconhecimento às produções científicas feitas por mulheres e, consequentemente, ampliar seu acesso e participação em diversas áreas de pesquisa. 

 

Um outro fator estrutural relevante para a institucionalização da data foram os dados obtidos por levantamentos feitos pela própria ONU e também pela Unesco na época, cujos resultados perduram até hoje. Segundo as entidades, as mulheres representam menos de 30% do total de pesquisadores no mundo. 

 

Apesar de estarem presentes no desenvolvimento de pesquisas e trabalhos fundamentais ao longo da história, mulheres cientistas eram consideradas intelectualmente inferiores aos homens, e por isso, sofreram com apagamentos e invisibilizações que retiraram de si o protagonismo e a legitimidade sobre suas próprias produções. 

 

Mulheres brasileiras na ciência 

 

No Brasil, até o século XX, a presença de mulheres nas instituições de ensino superior era praticamente nula. Por aqui, o ingresso feminino nas universidades data da década de 1960. E nessa época, as mulheres precisavam de autorização dos seus pais ou maridos para estudar e eram direcionadas para cursos específicos, adaptados voltados para o cuidado do lar e da família. 

 

Atualmente, mesmo tendo se tornado a maioria das estudantes no ensino superior, ainda há uma desigualdade notável na presença de mulheres em cursos das áreas de exatas. A chamada STEM (sigla que representa ‘Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemáticas’ em inglês) é a área onde a predominância masculina histórica ainda se mantém. 

 

De acordo com dados obtidos pelo censo universitário de 2018 realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), as mulheres são 59% dos estudantes em universidades no país, mas quando se trata de cursos das áreas de exatas, elas representam apenas 41%. 

 

A professora do Instituto de Agronomia da UFRRJ, Lúcia Anjos, considera que estes números são expressivos e ainda maiores em ambientes de pesquisa e acadêmicos no Brasil, e que, portanto, o quadro permanece desigual por muitas razões. 

 

“Se olharmos para a participação das mulheres na graduação, a distribuição é proporcional, porém, nos níveis seguintes, ela se torna cada vez menor. O mesmo nas publicações (60% do total é de homens) e em patentes e outros produtos. Um número ainda menor de mulheres é contemplado com prêmios como o Nobel”, destaca a docente. 

 

A professora titular da UFRRJ, Lúcia Anjos, durante palestra no 21º Congresso Mundial de Ciências do Solo (World Congress of Soil Science), ocorrido no Rio de Janeiro em 2018. Imagem: reprodução arquivo pessoal.

 

A docente ressaltou um estudo recente elaborado pelo GenderInSITE (Gender in Science, Innovation, Technology and Engineering) em parceria com InterAcademy Partnership (IAP) e o International Science Council (ISC) que revela que o percentual de mulheres eleitas para representação em academias científicas em 2020 foi de 16%, contabilizando apenas 10% nas engenharias e 8% na matemática. 

 

Lúcia Anjos também aponta a desigualdade presente entre homens e mulheres que são bolsistas de órgãos de pesquisa, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o CNPq.    

 

Ela citou que em matéria publicada na Revista Fapesp em janeiro de 2022, a também professora da UFRRJ, Moema Guedes, contribuiu na apresentação de dados que mostram o desequilíbrio na distribuição de bolsas de produtividade em pesquisa do CNPq, em que 63% eram homens e apenas 37% mulheres, havendo disparidade ainda maior nos níveis de bolsas de maior valor (1A e Sênior).

 

A professora Lúcia Anjos é presidente da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS), representante do Brasil em painel internacional da FAO (ITPS/FAO), pesquisadora CNPq e Faperj e Pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação da UFRRJ. 

 

Em entrevista à Imprensa ADUR-RJ, ela contou que, ao longo de  sua trajetória, para exercer cargos em diferentes posições e organizações, aprendeu sobre a importância de formar equipes e delegar com suporte coletivo. 

 

“Tenho a dizer que ocupar esses cargos não teria sido possível sem apoio de colegas e discentes em meu grupo de pesquisa e da minha família. O que foi construído ao longo do tempo, e que, sem dúvida, exigiu muito mais em tempo pessoal dedicado a essas ações.  Assim, vejo como um ato de resistência e, talvez, que possa ser exemplo para outras mulheres que diante de convites para ocupar altos cargos os rejeitam, pela necessidade de manejar demandas familiares e por achar que precisam fazer tudo sozinhas”, declarou.

 

Presença e permanência de mulheres nas universidades: atuação da UFRRJ

 

Quando se trata de um nível institucional, existem políticas e estratégias estabelecidas que podem ser aliadas a uma maior inclusão de mulheres pesquisadoras nos espaços científicos e acadêmicos. A professora Lúcia Anjos pontua algumas iniciativas realizadas pela UFRRJ para facilitar e ampliar esse processo de permanência. 

 

“Na graduação, através da PROAES, para o Auxílio Creche tem por finalidade subsidiar o custeio parcial das despesas com creche/educação infantil para discentes regularmente matriculados nos cursos de graduação presencial. O que auxilia na permanência, em especial de mães, e conclusão de seus cursos e atuação em pesquisa. Outros programas foram lançados, nos anos anteriores à 2019, em várias Universidades, com interrupção nos anos seguintes, seja pelo contingenciamento de recursos ou pela quarentena devida a Pandemia da Covid-19”.

 

A docente lembra que, ainda em 2017, foi sancionada a Lei 13.536 que dá direito a estudantes bolsistas de pesquisa ao afastamento por maternidade ou adoção por até 120 dias sem interrupção da bolsa. 

 

“A partir de 2020, várias agências de fomento no Brasil, em destaque a FAPESP, a FAPERJ e a Fundação Serrapilheira, passaram a considerar de forma distinta em seus editais as questões de gênero e parentalidade. O CNPq, em abril de 2021, criou um menu no Lattes que permite registrar períodos de licença-maternidade”, destacou ela.

 

Mais recentemente, em 2021, Lúcia Anjos ressaltou que o Edital PIBIC da UFRRJ incluiu nos critérios de avaliação da produção científica docente que: “No caso de professoras que tiveram ou adotaram filhos no período de 5 anos anteriores ao edital serão acrescidos 2 anos ao período de avaliação da produção…” Ela também lembra que, em dezembro de 2021, o Edital de Auxílio a(o) Pesquisador(a) 001/PROPPG estabeleceu a modalidade de solicitante – Grupos de pesquisa com liderança de jovens docentes, com matrícula ativa na UFRRJ. 

 

Nesta modalidade, 50% dos recursos foram prioritariamente autorizados a mulheres líderes de grupos de pesquisa e, para mulheres que tiveram ou adotaram filhos no período de 2016 a 2021, poderiam ser acrescidos 2 anos”, afirmou.

 

Desafios para o futuro

 

Para a professora Lúcia Anjos, atualmente, existem questões referentes à imagem do papel das mulheres na sociedade que retroagiram quando comparadas aos avanços obtidos nas décadas de grandes mobilizações sociais após o fim da ditadura militar no Brasil. 

 

“Essa imagem é veiculada na mídia em geral, nas músicas, nos grupos religiosos, e de muitas outras formas. A violência contra a mulher é hoje apresentada na mídia de forma mais intensa, mas nada se fez de forma efetiva, como política pública ou punição para resolver a questão. Os anos de pandemia mostram índices ainda piores de assédio, agressão e mesmo de feminicídio”, salientou. 

 

A docente destacou também como o fator econômico é fundamental para a construção de permanência, estabilidade e reconhecimento nas carreiras de mulheres pesquisadoras. 

 

“(…) Mais e mais mulheres tiveram que optar por ingressar mais cedo no mercado de trabalho, apesar de disparidades também no valor do salário em relação aos homens, e, muitas vezes, fora do campo de conhecimento para o qual se formaram. O que significa que carreiras científicas iniciadas na graduação foram abortadas após obter o diploma, com nítida redução do número de mulheres que seguem no Mestrado, exceto por algumas áreas tradicionais como a Educação, e mais ainda no Doutorado. Finalizando em oportunidades de trabalho na academia e pesquisa serem então preenchidas, principalmente, por homens”,  evidenciou ela.

 

Com relação às perspectivas de futuro, a professora acredita que existem diversos mecanismos capazes de colaborar na construção de equidade de gênero e cita alguns deles. 

 

“Em termos mais amplos, o restabelecimento de políticas públicas que estavam em elaboração ou em etapas diversas de implementação para se tornarem leis e o fortalecimento de conselhos e comissões, que foram igualmente destituídas ou abandonadas a partir de 2019. Estávamos no caminho correto no Brasil para alcançar a igualdade, precisamos retornar a ele. 

 

Por fim, campanhas de educação para a sociedade em geral, para mudar a visão sobre o papel da mulher não apenas na ciência e educação, mas na economia, na indústria e na política. É nosso direito constitucional e uma mulher brasileira, lutou pela sua inclusão na Carta da ONU em 1945. Vejam a biografia de Bertha Lutz”, recomenda a docente.

 

A cientista brasileira Bertha Maria Júlia Lutz, conhecida como Bertha Lutz, uma referência para a ciência brasileira e também considerada uma das precursoras do movimento feminista no país. Imagem: reprodução Arquivo Nacional.


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